Os aclives são uma maneira de fazer o corpo trabalhar mais. "Você coloca mais intensidade no exercício, sem necessariamente aumentar a velocidade e, como trabalha com um V02 mais alto, a capacidade de manter a velocidade se aprimora", afirma José Kawazoe Lazzoli, especialista em medicina do esporte e presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte, a SBME. Fabio Avelar, diretor-técnico da Leg Assessoria Esportiva, acrescenta que a subida exige mais força e resistência. "O atleta adquire mais força nos membros inferiores e consegue realizar um recrutamento mais intenso e amplo dos grupos musculares que são utilizados na corrida", diz ele.
a musculatura das pernas quanto o feito na musculação, com a vantagem de o exercício ser feito enquanto se corre e não em uma situação artificial como uma sala de aula. Muitos especialistas acreditam que as sessões no aclive melhoram a elasticidade de músculos, tendões e ligamentos, fazendo com que o corpo consiga suportar uma intensidade de trabalho mais alta com menos esforço e fadiga.
VENÇA ESTE DESAFIO
Você está no meio da prova e eis que se depara com uma montanha pela frente. Os especialistas dizem que vencer uma subida íngreme não diz respeito só ao físico, mas também à cabeça. Você não deve deixá-la te derrubar. Correr bem em um aclive é uma questão de ritmo. Por isso, são necessários alguns ajustes: um deles é encurtar a passada. Não dá para manter a mesma que no plano. O outro, é acelerar gradualmente, à medida que se alcança o fim dela.
Para não quebrar na subida, Aulus Sellmer, diretor-técnico da 4any1, recomenda que o corredor tenha um lastro energético para não ultrapassar o seu limiar de esforço e, assim, ficar comprometido por uma fadiga muscular. "É preciso ter uma reserva energética e isso se dá com o amadurecimento do treinamento", esclarece. O técnico acrescenta que o corredor alcançará esse limiar maior de esforço com treinos variados: longão, ritmo e intervalados de intensidade. A subida é mais um nessa longa lista de treinos.
Os aclives podem desenvolver tanto a potência anaeróbica como a anaeróbia. Subidas curtas, que exigem uma energia explosiva obtida por meio da queima de carboidrato, trazem ganho de potência anaeróbia. "Mas não indico mais de 1 min de corrida, para evitar acúmulo de ácido láctico nos músculos", indica Avelar. Já as médias ou longas trabalham a evolução da potência aeróbia (em que o oxigênio é o combustível).
LADEIRA ABAIXO
Boa parte dos corredores abre um sorriso quando se fala em descida. Afinal, como é mais fácil, vira a chance de recuperar o tempo perdido na subida. "Como os ângulos são
diferentes, há uma participação de intensidade diferente entre as subidas e descidas. Nessas últimas, o gasto energético é bem menor, por tanto, com a postura adequada, os declives podem ser encarados como uma recuperação do esforço", explica o médico José Kawazoe Lazzoli.
Mas a corrida nos declives requer muito mais atenção. Ela resulta em um estresse para o corpo muito maior que na subida e que até mesmo correr no plano. Não é pouco freqüente os atletas inclinarem o corpo para trás na ladeira, uma espécie de tentativa de
lutar contra a gravidade, e frearem com os joelhos.
O problema é que isso coloca uma tremenda carga nos joelhos e músculos da coxa. Se você notar, essa postura gera aquele som característico de quem corre de qualquer jeito na descida: pá, pá, pá.... Não é difícil perceber que certamente esse não é o jeito mais eficiente de correr. "O problema dos declives é que o corredor costuma soltar o corpo, atitude que favorece o aparecimento de lesões. Afinal, o impacto fica aumentado devido à força de atração da gravidade e à velocidade", explica o personal trainer Miguel Sarkis.
Com essa somatória de fatores, os membros inferiores e ossos sofrem com cerca de quatro vezes mais peso. Por exemplo: se um corredor que pesa 80 kg descer desembestado, sofrerá um impacto de aproximadamente 320 kg a cada toque dos pés.
Independentemente do treino, o trabalho nos planos inclinados exige mais força muscular e gera mais impacto, e é aí que podem surgir os problemas de lesões e fadiga.
"Quanto maior a inclinação, maior a sobrecarga nos quadríceps, quando subimos, e nos joelhos, quando descemos", observa Sandra Aparecida Atayde, professora de fisioterapia, especialista em fisiologia do exercício e doutoranda em ciências médicas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Para evitar lesões nas articulações, Sandra aconselha: evitar o cansaço em um aclive e não exagerar na velocidade nos declives.
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