domingo, 13 de novembro de 2011

Tem coisa estranha no mundo da corrida

Água do picles, suco de beterraba e até de cereja vêm sendo consumidos por corredores mundo afora antes das provas. Acredite: eles funcionam mesmo
 
Vai um suco de água de picles para dar um up no seu desempenho?

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Por Vanessa de Sá
Todo corredor tem uma mania. Algo que faz, come ou bebe que ele garante fazê-lo correr mais, ajudá-lo a se recuperar mais rápido ou, ainda, livrá-lo das tão temidas cãibras. Mas eis que algumas dessas práticas populares ganharam o carimbo de “funciona” da ciência. Conheça as excentricidades praticadas pelos atletas que realmente dão certo.
Água do picles
“Eu comecei a correr maratonas em 1994. Três anos depois, eu já tinha corrido oito provas, mas sempre ia mal. Eu costumava sentir uma pontada na batata da perna por volta do km 28, e no km 32 ela evoluía para uma cãi­bra horrível, que me impedia de cor­rer. Uma das pessoas com quem eu trabalhava era treinador, e ele me disse que os levantadores de peso bebiam a água do picles antes das competições para evitar cãibras. Resolvi testar”, contou à SPORT LIFE o médico Rick Ganzi, diretor da equipe de marcadores de ritmo da Maratona Grand Rapids (EUA).
Ganzi adotou os picles desde então e, com a incrível marca de 71 maratonas disputadas, afirma nunca mais ter sido incomodado pelas dores desde que passou a tomar o “suco de picles”. E ele não é o único a fazer isso. “Hoje, aproximadamente um em cada quatro treinadores certificados nos EUA usam ou já usaram a água do picles para tratar cãibras associadas ao exercício”, conta Kevin Miller, do departamento de Nutrição e Ciências do Exercício da Universidade do Estado de Dakota do Norte (EUA).
Loucura total encarar a água salgada e avinagrada do picles? Ao que tudo indica, não. “Nós descobrimos que quando uma pessoa tem cãibras num músculo do pé chamado flexor hallucis brevis e toma 1 ml do líquido por quilo de seu peso, elas vão embora 45% mais rápido do que quando as pessoas não tomam nada, e 37% mais rápido do que quando tomam  água”, afirma Miller, autor da pesquisa publicada na revista do Colégio Americano de Medicina do Esporte e especialista no estudo das cãibras. Em outras palavras, leva cerca de 85 s para a cãibra desaparecer depois de ingerida a água do picles;  134 s quando se toma água; e 155 s quando não se ingere nada.
Segundo Miller, uma das mais recentes teorias a respeito das cãibras afirma que elas teriam origem não na desidratação ou no desequilíbrio de eletrólitos observados quando se faz atividade física, mas num mecanismo que envolve os neurônios, as células nervosas do organismo. Quando fatigados, os músculos disparariam uma série de sinais que aumentariam o grau de excitação dos neurônios, o que levaria a musculatura a contrair-se repentinamente. “A água do picles dispararia um reflexo neural na boca, que mandaria sinais ao cérebro, que, por sua vez, levaria os neurônios a relaxar e o músculo a não se contrair.”
Mas não faz mal tomar algo cheio de vinagre e sal e, pior, com um sabor que está longe de ser agradável? “Particularmente, eu adoro. Conversando com centenas de corredores sobre is­so, verifiquei que metade gosta e m­tade odeia. Não há meio-termo”, brinca Ganzi. Miller garante que o vinagre não é necessariamente ruim para o corpo, embora altas concentrações de ácido acético, o principal componente do tempero, possam levar o intestino a ficar irritado. “Entretanto, estudos sugerem que o vinagre ajuda a controlar a quantidade de açúcar que é absorvida pela corrente sanguínea, porque ele desacelera o esvaziamento gástrico.” Ponto para os picles, porque a absorção lenta do açúcar pelo sangue é condição ideal para quem corre provas longas. E mais: a água do picles contém grandes quantidades de eletrólitos, entre eles o magnésio, o cálcio e o sódio, esse em altas concentrações. “Quem corre longas distâncias perde muito sódio”, diz Rick.
Mas o atleta alerta: o suco de picles só é indicado para corredores de longa distância. “A água do picles é rica em sódio, e a maior parte das pessoas já consome sal em excesso. Como médico, me preocupo que um corredor casual, que já come muito sódio, comece a tomar o líquido, quando ele na verdade não o ajudará, além de ser perigoso. Os picles são para quem se exercita continuamente por duas ou mais horas.”
Veja as outras "guloseimas estranhas" adoradas por muitos corredores em "Tem coisa estranha no mundo da corrida II".

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