domingo, 21 de agosto de 2011

Treinamento de força para corredores - um estudo de caso (parte 2)

Treinamento de força para corredores - um estudo de caso (parte 2)

Metodologia

Neste estudo utilizou-se um questionário estruturado com 22 questões fechadas e 15 abertas com o objetivo de caracterizar o treinamento de corridas em rampa desenvolvido por um treinador brasileiro de provas de meia e longa distância com certificado de nível II pela Federação Internacional de Atletismo.

O treinador foi informado por telefone quanto aos objetivos do estudo e sua possível participação. Tendo em vista seu interesse em participar do estudo, o questionário lhe foi enviado por e-mail. Antes da devolução do questionário, um novo contato telefônico foi estabelecido para o esclarecimento de algumas dúvidas que pudessem ter surgido durante o processo de preenchimento.

Resultados e discussão

O treinador tem 40 anos de idade e atua na modalidade de atletismo há 18 anos, é formado em Educação Física e atualmente ministra aulas em uma Universidade. Atualmente são 6 os melhores atletas mencionados pelo treinador com marcas entre 13min30s-14min20s nos 5000m e 28min15s-29min30s nos 10000m. Procurou-se agrupar as respostas de tal forma que permitisse uma visão geral de como foi desenvolvido o treino de rampas ao longo dos vários períodos de preparação, a saber: geral, específico, pré-competitivo, competitivo e transição. Nestes períodos foram definidas quais distâncias o treinador utilizou no treino de rampas, assim como o intervalo para recuperação, o volume total de rampas em uma sessão e também com que freqüência o treino de rampas foi realizado durante uma semana.

Em uma das questões abertas o treinador teve a oportunidade de comentar algo que achasse relevante no treinamento de força que não foi abordado ao longo do questionário. Entre estas considerações o treinador relatou que no período de preparação geral e no período de preparação específica o treinamento em rampas era realizado em terreno de terra e grama, enquanto no período pré-competitivo e competitivo o treino era realizado em terra e asfalto para que o atleta realizasse a corrida num terreno mais regular e consistente, possibilitando uma velocidade maior na execução. Também foi relatado que durante o treino de corrida em rampas, o treinador deve estar sempre que possível presente, para a correção de eventuais erros técnicos por parte dos atletas.
O treinador deixou claro que para ele a corrida em rampas tem como objetivos principais: a melhoria da amplitude da passada e o desenvolvimento da resistência de força específica.

Conclusão

Após a análise dos resultados pode-se concluir que o treinador mantém o treinamento em rampas por praticamente todo ano com exceção do período transitório. A freqüência semanal com que o trabalho é realizado também se mantém durante os períodos.

Algumas modificações são verificadas à medida que o período competitivo vai se aproximando. Entre estas se pode observar: queda de volume em uma sessão, maior intervalo de recuperação entre as repetições, diminuição das distâncias utilizadas assim como o grau de inclinação das rampas. Através destas alterações é possibilitado ao atleta realizar a corrida na rampa de forma mais intensa. O treinador menciona em suas considerações finais que durante os períodos pré-competitivo e competitivo as corridas em rampas são realizadas em asfalto com o objetivo de tornar a execução mais rápida devido as características do terreno, manifestando assim uma preocupação com o aumento da intensidade.

Quanto a mecânica de corrida o treinador relata a necessidade de corrigir os atletas durante a execução da corrida em rampas. O treinador também destaca a busca da melhoria da amplitude das passadas através deste tipo de treino. O treino de rampa não é negligenciado, buscando desta forma que os níveis de força sejam mantidos ao longo do ano. O treinador possui a convicção que a corrida em rampas é um dos componentes utilizados para o treino de força, devendo este ser complementado com outros meios tais como circuito e diversas formas de saltos. No período transitório onde se busca uma diminuição dos níveis de treinamento do atleta, não foi constatada a realização de treino de rampas.

Por se tratar de um estudo de caso é difícil uma conclusão quanto ao treinamento de rampa em corredores de longa distância. Buscou-se apenas dar algumas orientações de como este tipo de treino pode ser realizado ao longo de uma preparação.
É necessária a realização de outros estudos deste tipo para que se crie um modelo de orientação do treinamento em rampas para corredores de longa distância.

Bibliografia

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Autores: Cleber da Silva Guilherme - Escola de Educação Física e Esporte da USP
Fernanda de Aragão e Ramirez - Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Paulo Roberto de Oliveira Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)


Treinamento de força para corredores - um estudo de caso (parte 1)

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